Dicas para professores da Educação Infantil

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domingo, 21 de agosto de 2011

Educação Infantil ainda não recebe a atenção necessária

Educação Infantil

Na última semana, a Prefeitura da cidade de São Paulo (SP) divulgou que 146.834 crianças esperam vagas em creches e pré-escola. A situação paulistana não é exceção. No Brasil, apenas 16% das crianças têm acesso à Educação Infantil, direito estabelecido pela Constituição de 1988.
Entre aquelas que conseguem a vaga, a situação não é melhor. “A qualidade é precária, muito precária. A rede conta com pessoas que não são qualificadas e também com a resistência de certos professores ultrapassados”.
A afirmação é da professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) Maria Letícia Nascimento, que concedeu entrevista ao Portal Aprendiz para discutir a atual situação da Educação Infantil no Brasil.
Aprendiz – O Brasil ainda está distante de universalizar o Ensino Infantil. O que emperra o processo?
Maria Letícia Nascimento - Apenas 16% das crianças participam da Educação Infantil. O direito é da criança, mas, hoje, acaba sendo da mãe que trabalha, porque é ela quem escolhe. Entram nessa escolha valores sociais e locais, como as escolas e creches que estão mais próximas e quais que vão atender às necessidades mais urgentes. Assim, lamentavelmente, há um déficit enorme de crianças e de instituições.
Aprendiz – Então o problema não é só de oferta, mas de entendimento sobre a Educação Infantil?
Maria Letícia – O processo histórico acabou deixando a Educação Infantil com um caráter bem específico: o de cuidar da criança. São poucas as pessoas que esperam da Educação Infantil uma coisa para além do cuidado.
Aquelas que vão além fazem o extremo oposto. Elas Investem num conteúdo programático que não tem nada a ver com aquilo que é próprio das crianças pequenas.
Assim, parte das mães que coloca as crianças em creches quer que elas sejam bem alimentadas e limpas. As outras, que normalmente colocam as crianças em instituições particulares, apostam no uso de apostilas com crianças muito pequenas, por exemplo, com criança de dois anos.
Aprendiz - Apostila para criança de dois anos? Como isso funciona?
Maria Letícia - É uma coisa absurda. Uma vez eu fui chamada para fazer avaliação desse material. Era uma apostila usada por crianças de dois anos. A apostila começava com a idéia da identidade. Estava escrito: “aqui sou eu”, e embaixo era para colar uma foto. Engraçado, uma criança de dois anos ainda não consegue se identificar, muito menos com um foto do tamanho 3X4, que era a foto solicitada no material. Uma apostila dessas é para mostrar o quê? Que tem um conteúdo educativo? Isso é balela, piada. Não tem o menor sentido. As crianças pequenas devem brincar, interagir, sentar na areia, mexer com tinta, tomar banho de água fria e ouvir histórias.
Aprendiz - Sobre a rede pública, o que você acha da qualidade da Educação Infantil oferecida para os poucos que têm acesso?
Maria Letícia - Precária, muito precária. Na verdade, acho que até existe uma preocupação na rede pública em atender bem. Mas o grande problema é que a gente esbarra em muitas limitações da própria rede. Ela conta com pessoas que não são qualificadas e também com a resistência de certos professores ultrapassados. Permeia a rede uma concepção de criança, que é uma concepção antiquada. Uma concepção que não corresponde com a própria concepção de criança. Talvez, eu esteja sendo injusta por generalizar, mas as pessoas subestimam aquilo que as crianças pequenas são capazes de fazer.
Além disso, existe um movimento da prefeitura de São Paulo em baratear o ensinamento, o que não é certo. Eles estão fazendo um grande depósito de crianças para dar conta da demanda.
Aprendiz – Qual o nível de preparo dos educadores?
Maria Letícia - Sem dúvidas falta preparo. Quem dá aula para Educação Infantil? Quem são esses professores que formam professores para trabalharem na área de Educação Infantil? Eles são mesmo vinculados à área? Muitas pessoas sabem que qualquer pessoa que tenha estudado pedagogia pode dar aulas sobre Educação Infantil. Vira um ciclo vicioso. Não há um interesse por parte da sociedade e do governo, isso gera uma proposta equivocada sobre o curso de pedagogia, que tem professores muito pouco especializados, que vão formar mal e são esses os professores que vão trabalhar com a Educação Infantil.
Aprendiz - Para combater todos esses problemas, como a Educação Infantil deve ser encarada?
Maria Letícia - A Educação Infantil é fundamental para o desenvolvimento da criança. Todas as crianças deveriam ir para a Educação Infantil. Toda a criança tem o direito à educação.
Há três grandes aspectos que devem ser considerados para uma educação de qualidade. Primeiro, uma educação que respeite e enxergue a criança como um sujeito, um alguém que é muito diferente do adulto mais que tem maneiras de lidar com as coisas e que devem ser respeitadas. Isso é crucial. Também é de extrema importância, profissionais que tenham uma boa formação. Bons espaços para as crianças, mesmo que sejam adaptados.
Mas tudo isso é uma escolha da família. Há famílias que preferem que as crianças fiquem em casa, fiquem com os avós, ou contratam pessoas para ficarem com as crianças em casa. Isso tudo é prejudicial, porque a interação é muito importante nessa fase. Pelo próprio fato de estar em grupo e conviver e interagir. Você só consegue isso na escola com a Educação Infantil. Se a criança fica em casa, a interação é muito menor.
Aprendiz – Como seria uma boa formação para o profissional que trabalha com Educação Infantil?
Maria Letícia – Primeiro, compreender diferentes concepções de infância. O mais importante é se inserir e se reconhecer em uma delas, porque as concepções de infância são movidas por políticas públicas e práticas pedagógicas. Se eu acho que a criança é incompetente, eu vou agir dessa forma com ela. Outro aspecto que é fundamental para um bom profissional é conhecer a história da infância, são essas disciplinas que sustentam a formação. O estágio também não deve ser esquecido. É o momento das experiências. Momento de perceber que as crianças têm competências para que se estabeleçam relações e limites. Lógico que tem crianças que te desafiam, mais isso faz parte e o profissional tem que aprender a lidar com isso.
Aprendiz - Qual sua opinião sobre as intervenções do MEC nos cursos de Pedagogia de má qualidade?
Maria Letícia - Eu acho que deve fechar mesmo. Acho que já mudou bastante. Hoje em dia temos bons cursos de Pedagogia. Mas nenhum curso dá conta da formação. Você sai mais atento a diversas questões, mas completamente preparada não. O profissional deve ir atrás.
Aprendiz - E os cursos a distância?
Maria Letícia - Eles não formam. Transmitem muito pouco. Para quem já trabalha na área e precisa do título, eu acho que serve, pois mesmo que sendo a distância existe a troca de experiências. Mas para quem está em busca de uma formação eu acho assustador.
Aprendiz – Qual é a importância da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Infantil?
Maria Letícia - A Constituição de 1988 é um marco. É ela que diz que a educação infantil realmente existe. A LDB retoma isso. De 0 a 6 anos, a criança tem direito a educação.

Aprendiz – Quais são as conseqüências do Ensino Fundamental de nove anos para a Educação Infantil?
Maria Letícia - Foi uma perda. Está previsto na lei que até 2011 o Ensino Fundamental deve ter no mínimo nove anos. A orientação que foi passada para os professores é que esse ano a mais no fundamental seria um ano de transição, e que ele seria tratado como mais um ano de Educação Infantil.
Mas a gente sabe que existe uma pressão muito grande dos pais e até mesmo dos professores de começarem a trabalhar com a alfabetização. Algumas escolas estão mantendo as crianças na pré-escola com seis anos, e quando elas fazem sete elas vão para o ensino fundamental.
Os municípios só estão cumprindo a lei. Irresponsabilidade em relação às crianças pequenas e uma não responsabilização do estado para aquilo que é sua tarefa. O descaso é muito grande. O nível que tem menos descaso é o nível federal, que está publicando materiais que tratam da questão. Se pelo menos as escolas pegassem esse material e discutissem com os professores, já seria um grande passo.
Aprendiz - Um mau desempenho no Ensino Fundamental pode ser reflexo de falhas na Educação Infantil?
Maria Letícia - Não. O mau desempenho do fundamental é fruto dele mesmo. Evidentemente se a criança passa pelo infantil, ela já vai com mais interesse, mas isso não garante que elas façam um bom Ensino Fundamental. Muitas professoras não gostam de crianças que passaram pela Educação Infantil, porque elas são mais relacionadas, falam bastante, querem brincar e não conseguem ficar sentadas e concentradas na sala de aula.
Aprendiz - O que o governo poderia fazer para mudar a Educação Infantil?
Maria Letícia - Ele podia incrementar a publicação dos índices a favor da Educação Infantil. Poderia mostrar como é importante para a criança. Também acho que deve tentar melhorar a qualidade e a participação. Alguns elementos como ouvir a comunidade, para envolver mais as pessoas, é muito importante. Ficar atento a essa interação, trazer os pais para o contexto, promover encontros entre escola e comunidade.

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